ANA MARIA COSTA

Segundas oportunidades

O Luís e a Mafalda eram colegas de trabalho. Ambos tímidos e reservados, entendiam-se muito bem nos assuntos laborais, mas eram incapazes de ter uma conversa pessoal. Começaram a alimentar em segredo sentimentos de amor, sem serem capazes de os demonstrar. No entanto, trocavam olhares de cumplicidade, como se as palavras pudessem ser dispensadas.

Luís desejava declarar-se, mas temia a reação da Mafalda. O que poderia ela ver nele? Não acreditava que pudesse despertar-lhe o mesmo sentimento que o consumia. E se gozasse com ele? E se achasse que não era suficientemente bom? E, pior do que tudo, se ela já tivesse outra pessoa? E, se as coisas não corressem bem, como iria conseguir trabalhar no mesmo sítio que ela?

De cada vez que pensava em dar o passo, acrescentava mais um argumento contra à sua já extensa lista e foi deixando o tempo passar até ao dia em que a Mafalda lhe contou que recebera uma promoção e ia trabalhar para outra cidade. Era o seu último dia naquela empresa. Luís sentiu as pernas tremerem e teve de se esforçar para não denunciar o pânico que o invadiu. Apesar de não ter coragem de confessar o seu amor, vivia satisfeito por poder estar com ela todos os dias, mas era-lhe inconcebível perdê-la assim.

Na hora de almoço, saiu e comprou um ramo com doze rosas vermelhas, exatamente o número de meses em que vivia naquele enamoramento secreto. Tomado pela coragem que o medo desencadeara, foi até ao gabinete da Mafalda e, como a porta estava entreaberta, pode vê-la abraçada a um homem, agradecendo-lhe por estar ali. Escondeu o ramo, recuou de imediato e saiu, sob o pretexto de ter uma consulta que havia esquecido. Nem se despediram.

Mafalda partiu, não voltou a vê-la, mas permaneceu no seu pensamento e no seu coração ao lado de uma certa inveja do homem que ela escolhera. Luís fechou-se para o mundo e lamentou a sua má sorte.

Decorridos doze anos, sentado no parque à beira do rio, ouviu alguém chamá-lo. Identificou uma voz familiar e o coração acelerou quando a reconheceu. Continuava bonita e percebeu que o sentimento permanecera intacto. Quando lhe perguntou se estava sozinha ou viera com o marido, ela contou que nunca casara.

— E aquele homem que estava contigo no dia em que foste promovida?

— Era o meu irmão.


Ana Costa

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